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Diário de um educador

12/04/2015 14:10

Diário de Educador, 12 de Abril de 2015.

 

Hoje vou escrever algo que com certeza seria estranho aos olhos de quem espera encontrar em um diário apenas pensamentos e reflexões acerca dos acontecimentos mais marcantes que ocorreram em torno do seu dia, visto que, vou direcionar-me aqui para questões de meu passado que decidi rememorar por entender que talvez elas sejam primordiais para poder entender quem eu me tornei (um Professor de Língua Portuguesa). Pretendo aqui focar o meu raciocínio em torno da educação, afunilando-a para direção da Instituição Escola. 

Sou o quinto filho de uma família que na época era desestruturada (no sentido de que não tinha condição nem financeira e nem psicológica para educar a mim e nem aos meus irmãos), e esse foi um braço que nos empurrou constantemente para caminhos desinteressantes, como o mundo das drogas, do crime e furto. O Marcos (nosso pai) era alcoólatra e sempre chegava bêbado no final das tardes de sexta à domingo; as vezes batia na Ana ( a nossa mãe ), e quebrava os objetos que estivessem no seu caminho quando queria ir ao banheiro. A Ana na época era faxineira e trabalhava de domingo a domingo para garantir o nosso prato de cada dia, já que o dinheiro do Marcos só dava para garantir as partidas de bilhar, as doses de cachaça e os cigarros que ele consumia quase diariamente. Felizmente mesmo dentro deste contexto de subalterno, eu e meus irmãos conseguimos nos ausentar dos maus caminhos, é claro que a Ana deu o máximo para que isso acontecesse, e eu serei eternamente grato a ela por isso. 

Entrei na Instituição escolar aos seis anos de idade, e tive bastante dificuldade para acostumar-me àquele espaço fechado e cheio de gente estranha. Sempre fui uma pessoa quieta, e na infância eu era ainda mais sério do que julgo ser hoje. Naquele ano eu consegui uma grande vitória, fiz uns colegas de turma, e aos poucos conseguia até pronunciar umas palavras durante o recreio, coisa que em outro momento nem dava para imaginar devido a minha vergonha exagerada. Fui vítima de bullying até meados do ensino fundamental, frutos da minha péssima dicção, essa que eu enfim consegui aperfeiçoar bastante, mas tenho de dizer que foi outra vitória que aconteceu ao decorrer deste percurso, mas que veio com muita garra e perseverança da minha parte.

Venci o ensino fundamental, e isso já era motivo de orgulho para a minha mãe, mesmo eu não tendo conseguido absorver muitos ensinamentos (devido às minhas limitações e ao fato de ter professores de pouco conhecimento acerca da profissão que exerciam), mas que comparado aos meus outros quatro irmãos ,que nem chegaram a completar o sexto ano do ensino fundamental, já era algo bem admirável. 

A grande batalha da minha vida foi a minha vida inteira de batalhas duras, desde o dia do meu nascimento, e não poderia ser diferente no Ensino Médio. Eu sentia em mim algo diferente aflorando, talvez fosse a rebeldia da adolescência que no meu caso se reverteu em compromisso com a pessoa preparada para o mundo que eu queria me tornar, e foi assim desde o primeiro encontro com a nova turma do primeiro ano do ensino Médio do Colégio Estadual Polivalente, em Irecê. Inusitadamente comecei APRENDER A CONHECER, E passei a observar como o professor se comportava, a admirá-lo pelo seu comprometimento com o trabalho, caso fosse mesmo comprometido; consegui camuflar e prender num cantinho meus problemas familiares e enxergar as coisas com mais afeto e prazer, fazendo dos meus objetivos o meu trabalho de cada dia; eu me sentia um homem de responsabilidade aos quinze anos de idade. No findar de cada aula, eu já tinha esquematizado em minha mente uma forma de encontrar um tempo para poder estudar em casa, mesmo que eu tivesse de organizar todos os problemas que com certeza estariam lá à minha espera. Como todo esforço e dedicação acaba se tornando resultado de bons frutos, o meu destaque entre os alunos mais comprometidos e honestos da turma me deu o título de líder da sala, e o professor de Língua Portuguesa (o que me chamava mais a atenção por sua capacidade e dedicação) disse as palavras que talvez eu tenha esperado a vida inteira para ouvir de alguém: Você é um exemplo a ser seguido, meu jovem!.

Uma nova era se instalava em minha vida, logo os resultados foram aparecendo. Eu conseguia andar sozinho, superei as minhas maiores fragilidades, e ainda encontrava uma forma de resolver meus problemas familiares. Eu estava me preparando para ser o docente que hoje os Quatro Pilares da Educação apresentam como ideal ( é claro que a posição ainda era outra e que isso nem passava por minha cabeça). Eu APRENDI A FAZER diferente, tentei  formar equipes com os alunos para aprender a trabalhar em grupo, mesmo sabendo que a imaturidade de alguns traria mais desavenças do que bons resultados; o meu setor de trabalho era o meu espaço de aluno na sala de aula, nem imaginava que eu já era o espelho que o reflexo da maioria daqueles educadores com certeza não apresentavam, e eu queria ser diferente, já pensava grande, e imaginei-me várias vezes no lugar de um deles. 

Posso dizer que APRENDI A CONVIVER com as diferenças, com as semelhanças e dificuldade minhas e dos outros que me cercavam. Passei a defender muitas vezes pessoas que como eu mostravam-se frágeis, colocando-as sempre para cima, provando que eu tinha realmente me tornar um líder, e o grande triunfo dessa liderança veio através de um campeonato de futebol masculino e feminino do Ensino Médio organizado por mim; foi através deste que, nós alunos, conseguimos quebrar  muitas intrigas que antes existiam principalmente entre os homens de todo o colégio. O time campeão daquele ano aglomerou a instituição inteira: Todos nós vencemos!. 

Como apresentado, foi no decorrer de toda essa trajetória de minha de vida que, numa espécie de profetismo a longo prazo, eu consegui APRENDER A SER o profissional que hoje sou, mostrando que gradativamente eu fui aprendendo e aperfeiçoando tudo que nos dias de hoje é posto para que um docente venha a se tornar para um bom exercício da docência. O meu comportamento frente aos meus alunos, é com certeza reflexo dos meus olhares lançados sobre os meus professores; eu sei ter a sensibilidade essencial; sei lidar muito bem com a diversidade de alunos das turmas as quais me responsabilizo quando estou no trabalho, desde o aluno mais comportado até o mais problemático. Lanço minha crítica primeiramente a mim, antes de lançar aos outros,;sou honesto e preocupado tanto com minha performance frente aos alunos, como também com relação a uma construção de uma aprendizagem que seja de certa forma democrática entre eles.

 

ESTE É UM TEXTO FICTÍCIO QUE TEVE COMO OBJETIVO MOSTRAR OS QUATRO PILARES DA EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI, PARTINDO DA PERCEPÇÃO DO ALUNO COM RELAÇÃO A ELES, E NÃO DO PROFESSOR, MAS QUE É NARRADO PELO PROFESSOR QUE O MENINO VEIO A SE TORNAR COM O DECORRER DO TEMPO. FOI UMA ESPECIE DE INVERSÃO DOS PAPÉIS. ESPERAMOS QUE TENHAM GOSTADO.

 

ATENCIOSAMENTE,

 

JENIVALDO MONTEIRO MACHADO;

FELÍCIA DOURADO GOMES.

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